domingo, 4 de agosto de 2013

Vermelho!



Abriu os olhos e viu apenas um clarão. A madrugada havia virado dia. Demorou um pouco para entender onde estava. Muitos cheiros, muitas cores de repente. Sentou, tentava encontrar um eixo. Verificou o celular, havia muitas perdidas, mas não havia perdido muito. Levantou, tropeçou em algo. Eram suas botas, ou seu orgulho, não sabia muito bem. A TV ligada mostrava que talvez não fosse muito cedo, ou muito tarde. O gosto amargo na boca. Lembrava álcool, mas quando lembrou o que realmente era, achou melhor não falar mais sobre isso. Parou um pouco para se lembrar do que havia passado. Não era muito, era bom e ruim. Sorriu quando se lembrou do resto. Calçou as botas com orgulho e foi ao espelho. Encontrou um rosto sem cor. Lembrava que a cor era importante. Voltou à cama. Dentre muitos panos encontrou a bolsa. Sorriu diante do que mais encontrou. Novamente no espelho abriu a bolsa. O rosto pálido de porcelana agradava, não era necessário um retoque. Pegou o preto e passou nos olhos. “Olhos de ressaca” como citou o autor. Sorriu com essa semelhança. Por poucos segundos se perguntou se a ressaca de Capitu era alcoólica ou moral. E a sua, do que seria?! O pensamento passou, ou ela fez passar. Os olhos estavam prontos, era a parte rápida. Pegou o vermelho vivo. Olhos por alguns instantes. Lembrou, apagou, derrubou uma lágrima. O preto borrado dava um ar de cansaço. Arrumou. Limpou os lábios e os tingiu com o vermelho. Gostava do resultado. Olhou as roupas. Ainda agradavam e revelavam belos atributos. Uma leve arrumada nos cabelos. De costas para o espelho, olhou a sua volta. Sorriu. Sorriu mais. Gargalhou. Havia sido realmente engraçado. Mexeu mais uma vez nos panos. Beijou o que encontrou. Marcou com o vermelho registrado. Os panos se mexeram. Fizeram carinho. Prometeram volta. Sorriu mais uma vez. Retribuiu o carinho. Virou as costas. Pegou a bolsa. O barulho das botas. Estava satisfeita. Estava bem com aquilo. Havia dor. Havia marca. Mas quando se lembrava da noite sorria. Isso era suficiente. Não estava completa. Isso não estava há muito tempo. Sorriu. Saiu. Saudade.