quarta-feira, 20 de maio de 2015

Limites da blindagem



Hoje em dia blindamos tudo...
Blindamos os carros, os vidros, as casas...
O motivo seria o medo? Insegurança?!
Mas e quando nos blindamos?  Como que por conspiração, nos tornamos ainda mais limitados!
Blindamos a alma, a boca, o coração...
Chegamos até a blindar o medo com medo de sentir medo!
Fato, não nego, construí essa parede! Tem tanto tempo que ela é feita de tijolos gastos e a pintura (feita apenas para fazer de conta que não havia nada ali) já está encardida! A pintura não funcionou, dava de cara com a parede toda vez que eu tentava dar um passo, eu sabia que ela estava ali. Cada vez que dava de cara o próximo passo era ir atrás da marreta para colocar tudo abaixo! Mas, como que por ironia, essa coisa de blindagem é boa...funciona! Eu empunhava a marreta, juntava minhas forças para levantar, mas a força era tanto que não sobrava mais nada para bater a primeira vez e começar a ver aquilo tudo se reduzir a pó! Comecei a achar que era fraqueza...e isso é estranho, levando em consideração que foi exatamente a fraqueza que me levou a levantar todo aquele reboco.
Esquece a marreta, não vai funcionar, e isso é uma pena, pois era a minha melhor possibilidade! Dava de cara mais algumas vezes, a cada hematoma me escondia, esperava ele passar e depois reaparecia como se nem conhecesse a parede, até bater outra vez! Cada vez que batia lembrava o motivo dela estar ali!
Vou ficar com a parede mesmo, é mais seguro, na pior das hipóteses o olho roxo se torna uma boa história, até mesmo uma briga, uma briga comigo mesma!
Opa, problema! De tanto dar de cara, descobri que a parede era fina, apenas uma camada, quase uma película de mau gosto. Criei alguns furos na minha blindagem. Por esses furos consigo ver o que me trouxe até aqui...os sorrisos, as confianças...droga! Como confiança dói!
O grande problema é que aí vem a saudade. Agora da pra entender, consigo sentir saudade da dor, preciso mesmo de uma blindagem! Borboletas...no estômago...quase um enjoo disfarçado de balanço cada vez que olho esse abismo que descobri na minha parede. Da próxima vez que você se mostrar assim vou ter que te jogar daqui!
Não posso te deixar entrar, quero...não posso. E até acho que você não quer...vamos trabalhar com essa hipótese!

E cada vez que um tijolo furar ele será restaurado e nós continuamos assim fechando buracos, sentindo saudade de abismo e espantando borboletas, pensando no estrago que o bater de asas de uma delas pode causar do outro lado desse mundo...ou da parede!