Hoje vamos falar de uma coisa (filme) que desde que eu vi
pela primeira vez, sempre mexeu muito comigo: Moulin Rouge!
Gente, sério, isso não é um filme, é um estado de espírito!
E o mais interessante, a cada vez que eu assisto rola uma identificação
diferente com cada personagem, com cada música...
Uma coisa nunca muda, minha admiração por ser um filme
basicamente sobre Boêmios (no melhor
significado da palavra!).
Calma, se você caiu
de paraquedas e não sabe do que eu estou falando, vamos a uma breve introdução!
Moulin Rouge é um
filme de 2001. A história se passa em 1899 e gira em torno de um
jovem poeta, Christian, que desafia a autoridade do pai ao se mudar para Paris,
considerado um lugar amoral e boêmio. Christian está solitário com sua máquina de
escrever quando um argentino inconsciente cai do teto e quando ele vê está no
andar de cima substituindo o argentino em uma peça de teatro. O poeta acaba se
tornando o escritor da peça e é levado até o Moulin Rouge para apresentar suas
poesias para Satine, a mais bela cortesã do local! O que acontece depois
disso...pelo amor de Deus, assistam o filme, pois posso dar 1001 interpretações
diferentes sobre o que acontece!
Mas vamos lá, entre diamantes
cintilantes sendo os melhores amigos de uma garota, garotos estranhos e
encantados que ensinam que a coisa mais importante é amar e em troca amado ser
e muito can can, temos que lidar com uma belíssima fotografia , que inclusive
rendeu ao filme a indicação ao Oscar. Além de melhor fotografia, Moulin Rouge
contou com mais 6 indicações ao Oscar em 2002 e levou o prêmio nas categorias
Melhor figurino e Melhor direção de arte! O filme é realmente Spectacular
Spectacular!
Além de todas as outras referências existentes ao longo do
filme, para mim, as mais importantes são as musicais! Diferente de outros
musicais (sim, o filme é um musical, mas não se desespere, eu normalmente não
gosto de musicais e Moulin Rouge é meu filme (estado de espírito) favorito!) o
filme é composto por músicas conhecidas que receberam novas roupagens e
arranjos para o filme! Isso mesmo, não são músicas feitas para o filme e sim
grandes sucessos, entre eles Your Song do grande Elton John!
Existem no mundo alguns loucos que classificam esse filme
como comédia romântica...CUIDADO! Se trata de um drama...nas primeiras cenas do
filme já temos a informação de que a mulher que Christian ama está morta!
Sim, eu choro do começo ao fim e muita gente sempre me
perguntou:
- Nossa, mas isso não
é horrível? Pra que sofrer desse jeito?
Calma, não é horrível, vamos à linha do tempo para explicar!
As primeiras vezes que eu assisti o filme, no auge da minha ridícula
obsessão pelo amor, me identificava muito com Satine. Além de todas as
complexidades existentes em Satine, um ponto auto da personagem é que ele é
sonhadora! E eu também já fui assim.
Nessa mesma época, algumas vezes que assisti me identifiquei
muito com Christian. O poeta quea credita acima de tudo no amor, All you need is
Love!
Depois de assistir muitas vezes e chorar de desidratar em
todas elas, acabei meio que me convencendo do que as pessoas falavam, esse
negócio não faz bem! Terminava todas
vezes com o rosto inchado, olhos basicamente em carne viva e uma sensação
estranha no peito!
Depois de quase um trauma, sábado a noite desses em casa,
sem nada para fazer e sozinha...me bateu uma saudade de Moulin Rouge! Coloquei
o filme para passar, mas já precavida com o controle remoto na mão e disposta a
assistir apenas algumas cenas e pular pelo menos 90% do filme. Tempos depois,
já com a primeira linha dos créditos subindo, me toquei do inevitável...eu
havia assistido o filme inteiro! Trauma retirado, algumas fichas começaram a
cair!
Dessa vez eu estava mais para Toulouse Lautrec, interpretado
lindamente no filme por John Leguizamo. Toulouse (além daquilo que nós sabemos
historicamente, focando em seu significado mínimo no filme) é um retrato lindo
de basicamente todas as emoções mundanas! Ele aparece logo no começo do filme,
ainda de maneira anônima aos nossos olhos, junto com Nature Boy, uma das
canções mais poderosas e com letra que merece nossa atenção:
There was a
boy
There was a
boy
A very
strange enchanted boy
They say he
wandered very far, very far
Over land
and sea
A little
shy and sad of eye
But very
wise was he
And then on
day
A magic day
he passed my way
And while
we spoke of many things
Fools and
kings
This he
said to me
The
greatest thing you'll ever learn
Is just to
love and be loved in return
É uma belíssima introdução e ensinamento do que estava por
vir. Ser amado e em troca amado ser! Em qualquer situação, é realmente a única
e melhor coisa que você pode aprender!
Depois dessa passagem, Toulouse volta como, basicamente, o
líder dos boêmios e defensor leal dos ideais. Interpretando uma freira e
tentado ajudar na criação da peça (aquela que Christian começa a escrever após
o incidente com o argentino desacordado) o artista é sorridente, levemente alcoólico
(não podemos esquecer do Absinto) e
sempre o centro das atenções e positividades! Toulouse parece o retrato de um
homem sem preocupações e solidão. Todos estavam convencidos disso, até que
enquanto todos comemoram a primeira apresentação de uma peça boêmia, ele
aparece sozinho, com olhos em carne viva do choro (basicamente igual os meus) e
mais uma vez junto com Nature Boy, nos lembrando que por trás da carapaça de
alegria, pode ter um sofrimento e uma solidão! Não seríamos todos um pouco
assim?
A figura de Toulouse parece estar ali o tempo todo para não
deixar Christian esquecer as coisas mais importantes da vida, mesmo que elas
sejam o sofrimento e a dor muitas vezes! No auge das desilusões, ele surge do
alto do palco para lembrar Christian e Satine que a coisa mais importante é
amar e em troca amado ser. E muitas vezes, durante o filme, para nos lembrar
que a coisa mais importante é lembrar que todos são humanos e merecem seus
momentos, seja os de loucura da fada verde ou de desilusão.
Dessa vez terminei o filme e chorei descontroladamente como
sempre fiz, porém, era um choro de liberdade. Mouling Rouge com Lautrec e
companhia me fizeram ver que muitas vezes nosso peito precisa de um grito de
liberdade! Nós não queremos chorar pelos nossos problemas mundanos, nossas
carapaças não podem permitir isso, mas nos permitimos chorar pelos amores que
transcendem a morte em nossos filmes favoritos e isso é extremamente
necessário! Como uma abertura feita com um bisturi para que o pulmão desinche e
volte ao ritmo normal, precisamos dessas fugas para que o nosso peito volte a
bater em várias notas e não apenas na da angústia! O Toulouse de John Leguizamo
estava ali todas vezes que assisti o filme, e parecia que estava esperando
apenas o melhor momento para mostrar seu real significado.
Voltei oficialmente a assistir Moulin Rouge sem medo, sem
trauma, entendendo que posso baixar a guarda algumas vezes e que preciso desses
personagens para isso! Funciona quase como uma família que me acolhe sem
perguntar muita coisa, dançando e cantando os momentos de alegria e angústia!
Acredito que com o passar dos anos e das exibições caseiras
do filme, passarei a me identificar com outros personagens, afinal, é um ciclo.
Acredito que mais para frente serei mais como Zidler em seus momentos de
lucidez patriarcal com sua família Moulin Rouge!
E espero nunca ser como o
Duque, pois, pelo menos por enquanto, ele é apenas o vilão que me faz rir
algumas vezes e chorar em outras quando faz o casal principal se separar!
Toda essa conversa foi apenas para dizer o seguinte: se
permita ser mais como Toulouse Lautrec. Se mostre e coloque para fora quando
necessário! Mesmo que para isso você precise do seu filme preferido!